Evento foi o maior leilão de radiofrequências da América Latina, arrecadando 47,2 bilhões de reais.
O maior leilão já realizado no setor de telecomunicações em todo mundo, o leilão das redes 5G no Brasil, aconteceu na primeira semana de novembro e já apresenta contradições. O diretor do sindicato de trabalhadores de telecomunicações do Rio de Janeiro (Sinttel Rio) e presidente do instituto Telecom, Marcelo Miranda, comentou que este novo modelo não garante o fim da desigualdade digital:
- O 5G é importante e estratégico, mas não da forma como querem implantar no Brasil. O Brasil, com o 3G e o 4G, manteve uma grande desigualdade e exclusão digital. Um gap. Essas pessoas serão incluídas no mundo digital com o 5G? A pandemia foi um momento que demonstrou esse abismo e o 5G poderá agravar essa exclusão. Devido ao modelo de leilão escolhido, essa tecnologia vai ficar muito distante da população.
O evento que arrecadou R$ 47,2 bilhões prometeu a elevação de dois pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos próximos anos. Assim como velocidade na transferência de dados pelo menos vinte vezes maior que a do 4G, utilizada atualmente, e a otimização de respostas e conexões, para acelerar o uso de diversos equipamentos em indústrias brasileiras.
Embora o sucesso, a nova conexão não pretende estreitar os laços no país. O maior objetivo desta nova tecnologia são as empresas focadas em telemedicina e no agronegócio. Este processo pode ser comparado com o de privatização do setor, que ocorreu na década de 90. Eram prometidas a redução de tarifas, o investimento na qualidade dos serviços, redução das dívidas públicas e ampliação do alcance dos serviços. Miranda ressalta que aqueles que defendiam a privatização, na época, afirmavam que a melhor forma de universalizar o serviço seria aumentando a competição:
- O argumento era que a competição era o melhor caminho, entretanto, não há evidências de que esse movimento causa a universalização. Houve uma mudança de tecnologia muito forte, que fez com que o modelo de privatização desse a impressão de ser um sucesso. Mas, foi evidenciado, em outros países, que somente com a participação do Estado que foi possível alcançar a universalização.
A expectativa é de que o valor arrematado seja destinado para a construção de uma rede privativa para o governo federal, conectividade em estradas, pagamentos ao tesouro e investimentos obrigatórios. Com o lançamento da cobertura nas principais capitais previsto para julho de 2022, este acesso permanecerá restrito à poucos consumidores.
Apesar disso, o leilão do 5G foi elogiado por seu estímulo ao investimento e pelo número de interessados. Ao mesmo tempo, a maioria das promessas de revolução poderão demorar anos para se concretizarem. O Ex-deputado Estadual Gilberto Palmares ressalta que o sucesso do leilão pode ser questionado, já que diversas regiões do país foram postas à margem:
- Em entrevista, o Ministro das Comunicações Fabio Faria comemorou o sucesso do leilão. Mas não houve interessados para a região norte, a mais pobre do país, repetindo o padrão do processo de privatização, em que as áreas menos afortunadas são ignoradas. E mesmo nas capitais, há bairros que ficarão para depois. Temos que lutar para que a internet chegue aos mais pobres.
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